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Gilberto da Silva
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publicado em 09/07/2012
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A importância contemporânea do livro impresso
Gilberto da Silva "Uma carta de amor enviada por e-mail nunca poderá ser perfumada, marcada por um beijo com batom, ou molhada por uma lágrima". José Saramago
Há cerca de vinte mil anos o homem exprime o seu pensamento através de meios gráficos, e há mais ou menos seis mil anos que conhece as formas de escrita. Desde então a palavra escrita trilhou um caminho de sucesso e a sua história está voltada para uma expansão cada vez maior. O livro é um dos artefatos mais antigos já criados pelo homem e sofreu várias transformações ao longo da história e existiu através de vários suportes de leitura, como blocos de pedra, folhas de bananeira e até mesmo da pele de animais antes do processo inventado por Gutenberg.
As novas tecnologias de informação que vem se desenvolvendo de forma acelerada e ampla levam o ato de leitura para uma nova era com amplas possibilidades interativas, mas isto não significa que elas retiram o prestígio ao livro impresso. As NTIs – Novas Tecnologias de Informação – ampliam o universo da leitura e tão cheia de novidades que a História fica esquecida.
Dados estão ai para demonstrar claramente que o livro impresso não está prestes a morrer, nesta época crescentemente digital. Em pesquisa realizada em 2007 "Retratos da Leitura no Brasil", e divulgada no ano de 2009 pelo Instituto Pró-Livro, em parceria com o IBGE, afirma que cresceu o número de leitores no Brasil.
"Os números mostram maior investimento em novos títulos. É uma estratégia inteligente do mercado, estimulando o surgimento de autores e a produção intelectual. O maior número de títulos permite gerenciamento estratégico das tiragens, que vão respondendo ao comportamento da demanda. Outra importante pesquisa — Retratos da Leitura no Brasil — também indica um cenário de crescimento para o consumo de livros. Em sua última edição, identificou a existência de 95 milhões de leitores no País e um índice de leitura de 4,7 títulos por habitante/ano." (BOSCHINI, 2010)
Destaca-se que essa pesquisa foi realizada numa época em que, também segundo o IBGE, cresce o número de brasileiros com acesso a internet (75,3% em três anos). Segundo a ex-presidente da CBL, Roseli Boschini dados e estatísticas dos estudos mais recentes corroboram a percepção de que o livro e a leitura encontram-se numa curva ascendente no País. O estudo realizado pela FIPE para a CBL aponta significativa redução de preços. Se considerarmos os valores reais, ou seja, já descontada a inflação de 2004 a 2008, a queda do preço médio efetivo do período foi de 22,4% no segmento de obras gerais, por exemplo.
Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o brasileiro comprou mais livros em 2009 e com previsão de aumento a partir de 2010.
Fonte: Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – realizada pela Fipe/USP para a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) fechou, em agosto de 2011, negociação para a compra de 162,4 milhões de livros didáticos a serem utilizados por alunos da rede pública neste ano de 2012.
Karine Pansa, atual presidente da CBL, declarou recentemente que "é gratificante observar que o preço do livro no Brasil vem mantendo uma tendência de queda. Isto estimula o crescimento do número de leitores e desenha um futuro com mais educação, cultura e efetivo desenvolvimento".
"Os números evidenciam que a atividade do setor editorial transcende em muito ao universo dos negócios. Não basta produzir e vender livros. É preciso viabilizar a multiplicação do acesso à leitura. Ler deve constituir-se num direito inerente à cidadania e numa ferramenta de disseminação da cultura e do aperfeiçoamento do ensino" (PANSA,2012)
Nesse sentido, o livro impresso, a despeito das mídias digitais, continua sendo o mais importante, completo e abrangente meio para a difusão de conhecimento com conteúdo didático, científico e literatura, contribuição para um país mais competitivo e com melhores condições de conseguir o verdadeiro progresso.
A cada surgimento de uma nova tecnologia especula-se o fim de outra. Profecias são proferidas. Afirmaram que o rádio acabaria, quando a televisão surgiu, assim como decretaram a morte do jornal impresso com o advento da internet. O livro está vivo.
Da mesma forma que a televisão não matou o rádio, acredito que o livro digital e o livro impresso são complementares. Mas é inegável que o negócio das livrarias físicas está em declínio, não somente pela ameaça representada pelo livro eletrônico, mas também pelas vendas online de empresas como a Amazon. O livro eletrônico já é uma realidade e devemos aproveitar seus benefícios sem ignorar a continuação do livro impresso. O livro eletrônico não encerra a vida do livro impresso, causa sim transformações necessárias nas formas de construir significados. À medida que o homem tiver necessidade de registrar sua história e seu pensamento, ele criará novos elementos que atendam às necessidades do seu tempo, permitindo uma leitura adequada aos objetivos de cada leitor.
O livro é essencial. Pensar sobre sua importância é pensar sobre a própria essência do ser humano, no que tange sua constante capacidade de formação e evolução. Sem sombra de dúvidas cada um enumeraria diversas situações em épocas diferentes em que este objeto foi o amigo capaz de apontar soluções e entreter gerações, mesmo com o advento das novas tecnologias e da internet, principalmente. Seguramente o livro impresso continuará tendo seu espaço, buscando e inovando continuamente..
Poucos jovens devem ter lido Os Irmãos Karamazov do escritor russo Fiódor Dostoiévski ou o Ulisses de James Joyce na tela de um computador. Tudo bem, são obras volumosas, mas convenhamos, o leitor voraz de e-books, arriscamos dizer, raramente ultrapassa a casa da 50 páginas lidas.
Evidente que as novas mídias, como autênticas produções culturais, formularam e reformulam velhos preceitos e continuamente transformam o que já existe em algo mais prático e inovador. É neste aspecto que a indústria livreira deveria se preocupar: não se acomodar. É de se destacar a necessidade de obras cada vez mais completas e atrativas para continuar conquistando seu público fiel, assim como as novas gerações de leitores. É preciso inovar, reinventar. Acreditamos que o investimento em bibliotecas públicas, também com conexão à internet pode se constituir um casamento perfeito, uma vez que é impossível acessar as informações em contextos sem internet.
Um livro fechado significa a matéria virgem. Se está aberto, a matéria está fecunda. Fechado, o livro conserva seu segredo, aberto, o conteúdo é tomado por quem o investiga. O coração é assim comparado a um livro: aberto, oferece seus pensamentos e seus sentimentos; fechado, ele os esconde. (ARAUJO, 2009).
A internet ajudou e contribui na ampliação do conhecimento alinhando a informação textual, com imagens, vídeos e voz, causando, em princípio, uma euforia ao lidar com o computador seja ele um PC ou um laptop. Repleto de possibilidade, seduz. O livro digital foi até a sala... Mas persiste outro problema do cansaço visual do cérebro exposto a iluminação continuada e direta sobre os olhos. Coisa evidente que um dia poderá ser sanada. Mas isto é definitivo para sacramentar a morte do livro impresso? Consideramos que as novas tecnologias ajudam no processo educativo da sociedade contemporânea, mas acreditamos que o livro impresso continuará contribuindo para a sociedade humana como um todo. Não serão dias fáceis e sem conflitos. A coexistência, que não será forçosamente pacífica, entre as duas formas do livro permanecerá.
O livro é o principal responsável pela sociedade que temos hoje, graças a ele que a humanidade pode evoluir e deixar seu legado para futuras gerações, seja através do livro impresso ou até mesmo de um livro digital.
Os pais devem e podem influenciar os filhos no interesse pela leitura criando o hábito do contato da criança com diferentes textos, sejam propagandas, anúncios, bilhetes, receitas ou hipertextos. Aos poucos a convivência familiar pode estabelecer o contato da criança com contos, romances, poesias, textos de teatro, obras populares, obras clássicas da literatura nacional e internacional.
Se queremos construir um País melhor e mais equânime, com oportunidades reais e iguais para todos, precisamos fortalecer as nossas bases. O incentivo à leitura em casa, na escola e em todos os lugares tem papel fundamental para transformarmos as futuras gerações em vencedoras e capacitadas a ter uma qualidade de vida – pessoal e profissional – digna com a grandeza do País. No entanto, não podemos nos esquecer do presente, da geração atual, que infelizmente ainda lê muito pouco, caso dos idosos. (PANSA,2011)
O grande desafio da escola hoje é a motivação onde devem ser promovidas situações diversificadas de leitura. Deve reservar espaço em sua organização curricular para a leitura e a literatura. Não para cumprir metas oficiais e governamentais, mas através da inovação buscar criar formas de tratar o texto literário para se informar, para adquirir e ampliar conhecimentos, para se comunicar, para se entreter. Deve enriquecer sua biblioteca e criar o hábito da visita dos alunos e não deixá-la como espaço fechado, sagrado, onde o aluno não é bem-vindo. A escola deve não apenas emprestar os livros para os alunos, mas também para os pais e irmãos e irmãs. Deve incentivar a troca de livros entre a comunidade, convidar escritores, jornalistas, poetas para ajudar no processo motivacional.
Não basta apenas prover a biblioteca de bons livros sejam eles impressos ou aparelhos bonitinhos eletrônicos.
A leitura é uma prática social, por isso está condicionada, historicamente, pelos modos de organização/valores que circundam a cultura. Ela deve ser analisada, repensada, refletida e criticada, buscando por meio da reflexão crítica e concreta, uma sociedade mais justa. É necessário saber selecionar os materiais/informações que somos constantemente "metralhados". O professor reflexivo-crítico precisa ensinar o educando a ler com criticidade, ser um cidadão emancipado politicamente. (Ilha; Krug, 2009)
O professor é um dos que mais influência a formação de leitores, exercendo papel fundamental tanto no incentivo à leitura quanto no ensino das primeiras letras. Ele deve estimular o gosto pela leitura de livros, lendo em voz alta, contando histórias, incentivando as idas à biblioteca, valorizando a leitura como fonte de entretenimento e conhecimento, estimulando o cuidado com os livros, trabalhando com diferentes tipos de gêneros de textos, incluindo o contato com o computador e o uso da internet.
As práticas e os procedimentos didáticos utilizados pelo professor em sala de aula devem levar em conta que, quanto mais se lê, maior é a fluência na escrita. Cabe ao professor estabelecer relações entre os conhecimentos dos alunos sobre leitura e escrita e o trabalho realizado em sala de aula, a fim de ampliar e modificar a percepção que eles têm sobre a função social dessas habilidades.
Por que ficar sempre na mesmice?
no que diz respeito à atualização dos professores, observou-se que eles estão desatualizados em relação aos novos autores da literatura infantil, uma vez que predominam em larga escala as indicações de Érico Veríssimo e Monteiro Lobato entre os escritores-nacionais e as de Maurice Druon e Saint-Exupéry, entre os estrangeiros. (BORGES,2004)
O que está em questão, na verdade, é o desenvolvimento do hábito e apreço pela leitura cujo sucesso não está na funcionalidade e atratividade do livro eletrônico. O livro é o maior exemplo de portabilidade, interatividade e praticidade. Um tablet ao quebrar leva consigo centenas de obras. Um livro perdido é apenas um livro perdido. A magia do livro está no seu manuseio, algo que os eletrônicos não oferecem por mais que são atualizados. Um livro impresso não "dá pau".
É de fundamental importância que o incentivo à leitura comece no seio familiar, mas tão essencial quanto, é o papel que cada um de nós brasileiros temos como agentes fomentadores, seja emprestando um pouco do nosso tempo para apresentar e ler livros às crianças, pessoas carentes, idosos ou desamparados ou, ainda, criando campanhas de arrecadação junto a familiares, amigos e desconhecidos no seu bairro ou na sua cidade. Um livro dado é conhecimento passado adiante. (PANSA, 2011)
Pensamos que o livro impresso já conquistou seu lugar na vida das famílias e das pessoas. A modernidade, com suas tecnologias, dificilmente encontrará um substituto à altura. O livro virtual, e-book, certamente contribuirá para complementar o livro impresso, pois tanto um quanto o outro apresentam vantagens e desvantagens. Acreditamos que o apaixonado por livros não trocará o prazer de ir ás livrarias, escolher pessoalmente, tocar, folhear, decidir por este ou aquele, apreciar os detalhes, que são encontrados apenas, nos impressos. Inclusive o cheiro.
Referências ILHA, Franciele Roos da Silva; KRUG, Hugo Norberto. O processo de construção do "professor reflexivo no Brasil": uma obra crítico-reflexivo. Revista P@rtes (São Paulo). Junho de 2009. Disponível em: <http://www.partes.com.br/educacao/professorreflexivo.asp>. PANSA, Karine. Livros, mais do que um gesto de amor. Revista P@rtes (São Paulo). Dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.partes.com.br/emquestao/livros.asp>. PANSA, Karine.A Rosa da sabedoria. Revista P@rtes (São Paulo. Maio de 2012. Disponível em: <http://www.partes.com.br/emquestao/rosadasabedoria.asp>.BOSCHINI, Roseli. A década do livro. Revista P@rtes (São Paulo). Janeiro de 2010. Disponível em < http://www.partes.com.br/emquestao/decadadolivro.asp>. |
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