terça-feira, 3 de julho de 2012

A importância contemporânea do livro impresso


Postado:http://www.partes.com.br/cultura/livros/livroimpresso.asp
Gilberto da Silva
publicado em 09/07/2012
A importância contemporânea do livro impresso
 
 
Gilberto da Silva
 
"Uma carta de amor enviada por e-mail nunca poderá ser perfumada, marcada por um beijo com batom, ou molhada por uma lágrima". José Saramago


Há cerca de vinte mil anos o homem exprime o seu pensamento através de meios gráficos, e há mais ou menos seis mil anos que conhece as formas de escrita. Desde então a palavra escrita trilhou um caminho de sucesso e a sua história está voltada para uma expansão cada vez maior. O livro é um dos artefatos mais antigos já criados pelo homem e sofreu várias transformações ao longo da história e existiu através de vários suportes de leitura, como blocos de pedra, folhas de bananeira e até mesmo da pele de animais antes do processo inventado por Gutenberg.
As novas tecnologias de informação que vem se desenvolvendo de forma acelerada e ampla levam o ato de leitura para uma nova era com amplas possibilidades interativas, mas isto não significa que elas retiram o prestígio ao livro impresso. As NTIs – Novas Tecnologias de Informação – ampliam o universo da leitura e tão cheia de novidades que a História fica esquecida.
Dados estão ai para demonstrar claramente que o livro impresso não está prestes a morrer, nesta época crescentemente digital. Em pesquisa realizada em 2007  "Retratos da Leitura no Brasil", e divulgada no ano de 2009 pelo Instituto Pró-Livro, em parceria com o IBGE, afirma que cresceu o número de leitores no Brasil.

"Os números mostram maior investimento em novos títulos. É uma estratégia inteligente do mercado, estimulando o surgimento de autores e a produção intelectual. O maior número de títulos permite gerenciamento estratégico das tiragens, que vão respondendo ao comportamento da demanda. Outra importante pesquisa Retratos da Leitura no Brasil também indica um cenário de crescimento para o consumo de livros. Em sua última edição, identificou a existência de 95 milhões de leitores no País e um índice de leitura de 4,7 títulos por habitante/ano." (BOSCHINI, 2010)

Destaca-se que essa pesquisa foi realizada numa época em que, também segundo o IBGE, cresce o número de brasileiros com acesso a internet (75,3% em três anos). Segundo a ex-presidente da CBL, Roseli Boschini dados e estatísticas dos estudos mais recentes corroboram a percepção de que o livro e a leitura encontram-se numa curva ascendente no País. O estudo realizado pela FIPE para a CBL aponta significativa redução de preços. Se considerarmos os valores reais, ou seja, já descontada a inflação de 2004 a 2008, a queda do preço médio efetivo do período foi de 22,4% no segmento de obras gerais, por exemplo.  
Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o brasileiro comprou mais livros em 2009 e com previsão de aumento a partir de 2010.
Fonte: Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – realizada pela Fipe/USP para a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) fechou, em agosto de 2011, negociação para a compra de 162,4 milhões de livros didáticos a serem utilizados por alunos da rede pública neste ano de 2012.
Karine Pansa, atual presidente da CBL, declarou recentemente que "é gratificante observar que o preço do livro no Brasil vem mantendo uma tendência de queda. Isto estimula o crescimento do número de leitores e desenha um futuro com mais educação, cultura e efetivo desenvolvimento".


"Os números evidenciam que a atividade do setor editorial transcende em muito ao universo dos negócios. Não basta produzir e vender livros. É preciso viabilizar a multiplicação do acesso à leitura. Ler deve constituir-se num direito inerente à cidadania e numa ferramenta de disseminação da cultura e do aperfeiçoamento do ensino" (PANSA,2012)

Nesse sentido, o livro impresso, a despeito das mídias digitais, continua sendo o mais importante, completo e abrangente meio para a difusão de conhecimento com conteúdo didático, científico e literatura, contribuição para um país mais competitivo e com melhores condições de conseguir o verdadeiro progresso.

Mídias são complementares

A cada surgimento de uma nova tecnologia especula-se o fim de outra. Profecias são proferidas. Afirmaram que o rádio acabaria, quando a televisão surgiu, assim como decretaram a morte do jornal impresso com o advento da internet. O livro está vivo.
Da mesma forma que a televisão não matou o rádio, acredito que o livro digital e o livro impresso são complementares. Mas é inegável que o negócio das livrarias físicas está em declínio, não somente pela ameaça representada pelo livro eletrônico, mas também pelas vendas online de empresas como a Amazon. O livro eletrônico já é uma realidade e devemos aproveitar seus benefícios sem ignorar  a continuação do livro impresso. O livro eletrônico não encerra a vida do livro impresso, causa sim transformações necessárias nas formas de construir significados. À medida que o homem tiver necessidade de registrar  sua história e seu pensamento, ele criará novos elementos que atendam  às necessidades do seu tempo, permitindo uma leitura adequada aos objetivos de cada leitor. 
O livro é essencial. Pensar sobre sua importância é pensar sobre a própria essência do ser humano, no que tange sua constante capacidade de formação e evolução. Sem sombra de dúvidas cada um enumeraria diversas situações em épocas diferentes em que este objeto foi o amigo capaz de apontar soluções e entreter gerações, mesmo com o advento das novas tecnologias e da internet, principalmente. Seguramente o livro impresso continuará tendo seu espaço, buscando e inovando continuamente..
Poucos jovens devem ter lido Os Irmãos Karamazov do escritor russo Fiódor Dostoiévski ou o Ulisses de James Joyce na tela de um computador. Tudo bem, são obras volumosas, mas convenhamos, o leitor voraz de e-books, arriscamos dizer, raramente ultrapassa a casa da 50 páginas lidas.
Evidente que as novas mídias, como autênticas produções culturais, formularam e reformulam velhos preceitos e continuamente transformam o que já existe em algo mais prático e inovador. É neste aspecto que a indústria livreira deveria se preocupar: não se acomodar. É de se destacar a necessidade de obras cada vez mais completas e atrativas para continuar conquistando seu público fiel, assim como as novas gerações de leitores. É preciso inovar, reinventar. Acreditamos que o investimento em bibliotecas públicas, também com conexão à internet pode se constituir um casamento perfeito, uma vez que é impossível acessar as informações em contextos sem internet.

Um livro fechado significa a matéria virgem. Se está aberto, a matéria está fecunda. Fechado, o livro conserva seu segredo, aberto, o conteúdo é tomado por quem o investiga. O coração é assim comparado a um livro: aberto, oferece seus pensamentos e seus sentimentos; fechado, ele os esconde. (ARAUJO, 2009).

A internet ajudou e contribui na ampliação do conhecimento alinhando a informação textual, com imagens, vídeos e voz, causando, em princípio, uma euforia ao lidar com o computador seja ele um PC ou um laptop. Repleto de possibilidade, seduz. O livro digital foi até a sala... Mas persiste outro problema do cansaço visual do cérebro exposto a iluminação continuada e direta sobre os olhos. Coisa evidente que um dia poderá ser sanada. Mas isto é definitivo para sacramentar a morte do livro impresso? Consideramos que as novas tecnologias ajudam no processo educativo da sociedade contemporânea, mas acreditamos que o livro impresso continuará contribuindo para a sociedade humana como um todo. Não serão dias fáceis e sem conflitos. A coexistência, que não será forçosamente pacífica, entre as duas formas do livro permanecerá.
O professor e a importância do livro
O livro é o principal responsável pela sociedade que temos hoje, graças a ele que a humanidade pode evoluir e deixar seu legado para futuras gerações, seja através do livro impresso ou até mesmo de um livro digital.
Os pais devem e podem influenciar os filhos no interesse pela leitura criando o hábito do contato da criança com diferentes textos, sejam propagandas, anúncios, bilhetes, receitas ou hipertextos. Aos poucos a convivência familiar pode estabelecer o contato da criança com contos, romances, poesias, textos de teatro, obras populares, obras clássicas da literatura nacional e internacional.
Se queremos construir um País melhor e mais equânime, com oportunidades reais e iguais para todos, precisamos fortalecer as nossas bases. O incentivo à leitura em casa, na escola e em todos os lugares tem papel fundamental para transformarmos as futuras gerações em vencedoras e capacitadas a ter uma qualidade de vida – pessoal e profissional – digna com a grandeza do País. No entanto, não podemos nos esquecer do presente, da geração atual, que infelizmente ainda lê muito pouco, caso dos idosos. (PANSA,2011)
O grande desafio da escola hoje é a motivação onde devem ser promovidas situações diversificadas de leitura. Deve reservar espaço em sua organização curricular para a leitura e a literatura. Não para cumprir metas oficiais e governamentais, mas através da inovação buscar criar formas de tratar o texto literário para se informar, para adquirir e ampliar conhecimentos, para se comunicar, para se entreter. Deve enriquecer sua biblioteca e criar o hábito da visita dos alunos e não deixá-la como espaço fechado, sagrado, onde o aluno não é bem-vindo. A escola deve não apenas emprestar os livros para os alunos, mas também para os pais e irmãos e irmãs. Deve incentivar a troca de livros entre a comunidade, convidar escritores, jornalistas, poetas para ajudar no processo motivacional.
Não basta apenas prover a biblioteca de bons livros sejam eles impressos ou aparelhos bonitinhos eletrônicos.
A leitura é uma prática social, por isso está condicionada, historicamente, pelos modos de organização/valores que circundam a cultura. Ela deve ser analisada, repensada, refletida e criticada, buscando por meio da reflexão crítica e concreta, uma sociedade mais justa. É necessário saber selecionar os materiais/informações que somos constantemente "metralhados". O professor reflexivo-crítico precisa ensinar o educando a ler com criticidade, ser um cidadão emancipado politicamente. (Ilha; Krug, 2009)
O professor é um dos que mais influência a formação de leitores, exercendo papel fundamental tanto no incentivo à leitura quanto no ensino das primeiras letras. Ele deve estimular o gosto pela leitura de livros, lendo em voz alta, contando histórias, incentivando as idas à biblioteca, valorizando a leitura como fonte de entretenimento e conhecimento, estimulando o cuidado com os livros, trabalhando com diferentes tipos de gêneros de textos, incluindo o contato com o computador e o uso da internet.
As práticas e os procedimentos didáticos utilizados pelo professor em sala de aula devem levar em conta que, quanto mais se lê, maior é a fluência na escrita. Cabe ao professor estabelecer relações entre os conhecimentos dos alunos sobre leitura e escrita e o trabalho realizado em sala de aula, a fim de ampliar e modificar a percepção que eles têm sobre a função social dessas habilidades. 
Por que ficar sempre na mesmice?
no que diz respeito à atualização dos professores, observou-se que eles estão desatualizados em relação aos novos autores da literatura infantil, uma vez que predominam em larga escala as indicações de Érico Veríssimo e Monteiro Lobato entre os escritores-nacionais e as de Maurice Druon e Saint-Exupéry, entre os estrangeiros. (BORGES,2004)
O que está em questão, na verdade, é o desenvolvimento do hábito e apreço pela leitura cujo sucesso não está na funcionalidade e atratividade do livro eletrônico. O livro é o maior exemplo de portabilidade, interatividade e praticidade. Um tablet ao quebrar leva consigo centenas de obras. Um livro perdido é apenas um livro perdido. A magia do livro está no seu manuseio, algo que os eletrônicos não oferecem por mais que são atualizados. Um livro impresso não "dá pau".
É de fundamental importância que o incentivo à leitura comece no seio familiar, mas tão essencial quanto, é o papel que cada um de nós brasileiros temos como agentes fomentadores, seja emprestando um pouco do nosso tempo para apresentar e ler livros às crianças, pessoas carentes, idosos ou desamparados ou, ainda, criando campanhas de arrecadação junto a familiares, amigos e desconhecidos no seu bairro ou na sua cidade. Um livro dado é conhecimento passado adiante. (PANSA, 2011)
Pensamos que o livro impresso já conquistou seu lugar na vida das famílias e das pessoas. A modernidade, com suas tecnologias, dificilmente encontrará um substituto à altura. O livro virtual, e-book, certamente contribuirá para complementar o livro impresso, pois tanto um quanto o outro apresentam vantagens e desvantagens. Acreditamos que o apaixonado por livros não trocará o prazer de ir ás livrarias, escolher pessoalmente, tocar, folhear, decidir por este ou aquele, apreciar os detalhes, que são encontrados apenas, nos impressos. Inclusive o cheiro.

Referências
ARAUJO, Rodrigo da Costa. O livro, a leitura, o leitor: um triângulo amoroso.Revista P@rtes (São Paulo). Abril de 2009. Disponível em:<http://www.partes.com.br/cultura/livros/olivro.asp>.BORGES, Cristina. A Formação do leitor infantil. Revista P@rtes (São Paulo). Ano III n.42, fevereiro de 2004. Disponível em: <http://www.partes.com.br/ed42/educacao.asp>.
ILHA, Franciele Roos da Silva; KRUG, Hugo Norberto. O processo de construção do "professor reflexivo no Brasil": uma obra crítico-reflexivo. Revista P@rtes (São Paulo). Junho de 2009. Disponível em: <http://www.partes.com.br/educacao/professorreflexivo.asp>.
PANSA, Karine. Livros, mais do que um gesto de amor. Revista P@rtes (São Paulo). Dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.partes.com.br/emquestao/livros.asp>.
PANSA, Karine.A Rosa da sabedoria. Revista P@rtes (São Paulo. Maio de 2012. Disponível em: <http://www.partes.com.br/emquestao/rosadasabedoria.asp>.
BOSCHINI, Roseli. A década do livro. Revista P@rtes (São Paulo). Janeiro de 2010. Disponível em < http://www.partes.com.br/emquestao/decadadolivro.asp>.



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